Uma grande parcela da população teve, tem ou terá problemas sexuais durante a vida. Esta é uma probabilidade grande se considerarmos os diferentes tipos de problemas sexuais: falta de desejo sexual, impotência, vaginismo, anorgasmia, ejaculação precoce…
Cuidar e tratar de problemas sexuais é uma atuação em saúde que tem se mostrado importante para melhorar o bem estar geral, a saúde das pessoas.
Desde a década de 1950 os tratamentos de problemas sexuais tem se desenvolvido. Primeiro com tratamentos psicológicos com a ascensão das correntes comportamentais na psicologia. Na década de 1970 a psicoterapia focada na sexualidade passa a ser mais comum e até debatida socialmente nas grandes cidades ocidentais. Com a década de 1980 médicos cirurgiões vasculares e urologistas entram no campo dos tratamentos de problemas masculinos e movem grande quantidade de pesquisas e com a participação de laboratórios farmacêuticos fazem aparecer muito mais estes problemas sexuais e as tentativas de curas orgânicas. Em paralelo, a psicoterapia sexual se fortalece e se estabelece de modo a apontar um caminho extra desde o final dos anos 1980: além de tratar o que está errado é necessário desenvolver novas habilidades para não ter outros problemas sexuais.
Em paralelo, desde a década de 1970, um movimento tem ocorrido, embora com altos e baixos e com grande embate moral envolvido, mesmo que as demonstrações práticas e científicas sejam e tenham sido favoráveis. É a educação sexual. Educar filhos no seio familiar e na escola sempre ocorrerá, mas tratar de questões sexuais é a grande dificuldade destas duas instituições sociais. Pais e professores não tem cultura, conhecimentos e nem habilidades para educar sobre sexualidade. Assim mantemos uma população sem compreender o que poderiam fazer em prol de melhoria de qualidades sexuais e bem estar sexual na vida adulta e dentro das regras culturais em que vivem e pretendem viver.
Assim sobrou para a psicoterapia uma vertente muito especial: promover o desenvolvimento de habilidades sexuais aos que compreendem que a psicoterapia é uma forma de melhorar as condições de vida, mudar comportamentos, facilitar novas formas de reagir às condições externas.
O que um casal, ou uma pessoa pode aprender fazendo psicoterapia em prol da vida sexual?
Considerando a psicoterapia um processo especial para facilitar mudanças na vida de uma pessoa, os caminhos serão vários.
Considerando apenas uma pessoa, o desenvolvimento de habilidades de assertividade, de expressividade emocional já deveria apontar o caminho para o bem estar. Reconhecer as emoções e aprender como elas afetam o funcionamento fisiológico sexual é algo necessário para se evitar problemas e disfunções sexuais.
Habilidades sociais são outros caminhos necessários para o relacionamento sexual ser a base de bem estar pessoal. Afinal, precisamos compreender como afetar o outro, interagir e inter-relacionar-nos.
Conhecer e aprender coisas sobre o sexo será um caminho amplo e de muitos fatores, uma nova educação em prol de uma sexualidade que seja mais satisfatória e saudável.
Habilidades em técnicas sexuais, novos comportamentos sexuais, compreender os caminhos que conduzem ao prazer erótico, as limitações de ordem moral, pessoal, cultural e mesmo legais é um amplo caminhar que poderá ser percorrido.
Em casal as fases individuais se multiplicam e será mais exigente com processos de comunicação e de solução de problemas a dois. Claro que este fator, o casal, implica em processos de aconselhamento e de psicoterapia conjugal, e podem estar na base de muitos dos problemas de ordem sexual.
Assim, ainda bem enigmaticamente, temos vários caminhos paralelos a seguir para a melhoria da vida sexual, mesmo sem que exista uma queixa sexual, um problema para ser resolvido.
Problemas sexuais sempre existiram no ser humano, pois nem sempre podemos ou somos capazes de executar uma ação que desejamos e sabemos que poderíamos fazer. Os problemas sexuais só começam a ser descritos e considerados para que existisse um tratamento a partir do início do séc. XX.
Ainda tardou mais de 50 anos para que tratamentos específicos fossem desenvolvidos.
Com o final da década de 1960 e a de 1970 se popularizou a compreensão de que se poderia tratar, mudar um comportamento sexual errado. Foi a era da Terapia Sexual, mais propriamente uma forma de psicoterapia focalizada na sexualidade.
A psicoterapia sexual tem como superar problemas sexuais masculinos e femininos, assim tratar problemas de ereção peniana, falta de controle voluntário sobre a ejaculação, problemas de falta de desejo sexual, falta ou dificuldades com ter orgasmos, dificuldades de excitação sexual, problemas de relacionamento do casal com diferentes necessidades sexuais ou de frequência…
No final do século XX, com o aumento crescente de pessoas com acesso à internet, iniciou-se o questionamento sobre o uso da psicoterapia à distância.
Os primeiros exemplos já vinha de atendimentos telefônicos em situações de necessidade, de impossibilidade momentânea da consulta, da sessão de terapia presencial ocorrer.
As preocupações iniciais eram de manter as mesmas condições técnicas e com os mesmos resultados da psicoterapia presencial. Não sabíamos o quanto seria igual.
Outra preocupação era no uso da internet, que não possibilitava, inicialmente, o uso do diálogo por voz, iguais às experiências pré-existentes com o telefone na década de 1990.
Mas ao longo da primeira década do séc. XXI grupos de pesquisadores em muitos países desenvolveram pesquisas científicas com o objetivo de testar os mecanismos e poder reconhecer que seria adequado usar programas e aplicativos para o contato psicoterapêutico através da internet, com segurança, mantendo padrões éticos e com resultados cientificamente garantidos.
Assim chegamos numa época que configura atendimentos on-line de modos semelhantes aos atendimentos psicoterápicos presenciais.
Verdadeiramente, os clientes que experimentam ambas situações preferem os atendimentos presenciais, mas seguem nos atendimentos à distância pelo distanciamento geográfico que impede frequentar o consultório do psicoterapeuta todas as semanas.
Mas podemos ter uma terapia sexual usando meios de internet?
Muitos programas ou aplicativos podem e são usados atualmente.
São mecanismos seguros que permitem sejam seguidos vários quesitos éticos e profissionais.
Podemos utilizar o Skype, que atualmente é embutido no Messenger do Facebook, ou pelo telefone estes mesmos programas, que se alia hoje a outro aplicativo muito conhecido que é o WhatsApp.
Diferentemente de há 20 anos, os programas atuais permitem vídeo e facilitam muito a comunicação de ambos os lados.
Mas serão necessários alguns procedimentos para o atendimento à distância.
Antes do contato de uma consulta inicial, já será necessário propor algumas regras.
Para a psicoterapia ser funcional estas regras precisam ser observadas.
Sejam sessões individuais ou de casal, ambas situações precisam seguir estes princípios.
E esses atendimentos on-line tem garantia?
As mesmas dos atendimentos presenciais. Isto também significa que a psicoterapia depende muito do envolvimento do cliente.
O psicoterapeuta sempre poderá, e o fará, indicações de técnicas que auxiliem o caminho, e cabe ao cliente exercitá-las dentro de parâmetros técnicos e não subjetivos. Mas as técnicas não funcionam em si, elas dependem de contexto, razão pela qual um psicólogo não é um mero aplicador de técnicas. Não se trata de tentar uma técnica, trata-se de usar adequadamente um contexto técnico para que novos comportamentos sejam treinados e desenvolvidos e façam parte do novo repertório desejado para solucionar problemas.
O tempo de duração da psicoterapia não pode ser previsto, pois não é uma equação aritmética simples. A cada semana novos fatores serão identificados para serem trabalhados nas sessões vindouras.
Os programas e aplicativos tem uma facilidade de manter o registro de cada atendimento, de cada horário de inicio e término de sessão, facilitando a ambos este conhecimento.
Se por alguma razão for necessária a interrupção do tratamento contratado, ambos os lados devem estar de acordo com a maneira de encerrar este processo, incluindo se estão confortáveis com a questão financeira, sem dívidas que afetem a ambos os lados.
Em se tratando de um tratamento com finalidades específicas, a terapia sexual tem caminhos que precisam ser trilhados, assim, a cada semana a pessoa ou o casal terão exigências sobre o que fazer e na sessão seguinte terão a oportunidade de contar como fizeram e como se sentem a respeito, antes de darem outro passo na direção dos objetivos sexuais.
Este é um caminho viável e se mostra semelhante aos atendimentos presenciais.
Este caminho exige confiança por parte do cliente, seja uma pessoa ou um casal. Esta confiança precisa ser exposta e debatida com o psicoterapeuta sempre que algo incômodo surgir.
Trabalhar em prol da felicidade sexual é necessário!
Trabalhar para melhorar a vida sexual exige disposição e tempo dedicado a cada semana.
Este é um caminho que vale cada passo, que trará bem estar e satisfação para a pessoa e para o casal!
Alguns homens chegam ao consultório com esta queixa. A dificuldade em um homem ejacular não é uma ocorrência muito comum. Lembremos que a ejaculação é fisicamente distinta do orgasmo. Homens que não conseguem ejacular podem ter ou não orgasmos. O orgasmo é a sensação de prazer que sentimos, e que nos homens está, geralmente, associado à ejaculação.
A ejaculação é o fenômeno físico de expulsão do esperma (espermatozoides e líquido seminal), necessário para a reprodução, diferente do orgasmo prazeroso que, fisicamente, ocorre no cérebro.
Devem ser perto de 0,5% a 1% dos homens que experienciam este problema de não ejacular numa relação sexual. Alguns vivem isto desde as primeiras tentativas de relacionamentos sexuais de penetração. Outros vivem este problema em algum momento de vida, muitas vezes associado a alguma passagem de vida especial.
Alguns homens desenvolvem este problema após os 50 anos, associado a outros problemas sexuais: inibições do desejo sexual e dificuldade erétil.
Não estamos nos referindo a homens que não conseguem ejacular após 1 ou 2 minutos de relação de penetração. O tempo para considerarmos que existe um problema tem que ultrapassar 30 ou 40 minutos de movimentos intravaginais. Os homens contam que se cansam fisicamente. Mas novamente, não é o fato de cansar-se após 5 ou 10 minutos de relação sexual.
Um fato muito importante será sabermos se a ejaculação existe na masturbação. A maioria dos homens que não tem ejaculação perceberá que ela ocorre quando estão sozinhos.
Para os homens que não tinham dificuldades em ejacular quando mais jovens, precisamos pensar se o processo de envelhecimento não está interferindo, pois outras condições podem ocorrer que facilitam a dificuldade de ejacular. Isto inclui o acúmulo de vivências difíceis de administrar e que produzem emoções e humor negativo. As frustrações do relacionamento conjugal e as dificuldades de expressividade emocional.
Algumas doenças físicas destroem os mecanismos neurológicos que produzem a ejaculação. Se um homem tem um diabetes não cuidado deverá desenvolver uma neuropatia e degeneração. Controlar esta situação, ser saudável, significa manter as taxas de glicose no sangue abaixo dos valores que determinam o diabetes, não adiantando manter as taxas estáveis, mas altas, como vários homens tentam explicar nessa hora. Outra condição comum acima dos 50 anos pode ser o uso de álcool diário (“para abrir o apetite”; “uma cervejinha no final da tarde”) que pode causar a mesma degeneração neurológica após 20 ou 25 anos de uso de álcool.
Mas poderemos saber de forma fácil se a falta de ejaculação decorre de degeneração neurológica devido a doenças físicas. Se o homem se autoerotizar, manipulando-se o pênis e obter uma ejaculação, então não existe uma doença que impeça a ejaculação no relacionamento coital.
Drogas e medicamentos?
Muitos medicamentos psiquiátricos podem causar a inibição ejaculatória (coital e na masturbação). Vários destes medicamentos tem sido tentados no “tratamento” do problema sexual oposto, a ejaculação precoce. A tentativa de tratamento foi pensada, desde a década de 1970, exatamente por psiquiatras observarem pacientes internados em hospitais psiquiátricos que demoravam para ejacular. Então, homens que são tratados por estes medicamentos podem ter a inibição ejaculatória medicamentosa, o que facilmente seria resolvido com mudança de medicação, por exemplo.
Mas existem condições bem mais comuns e que muitos homens vivem e passaram a considerar “normais”. Uma destas condições é o estresse. O estresse é um estado de mecanismo ansioso cronificado. Ao nos mantermos em ansiedade constantemente, seja por trabalho, seja por nos preocuparmos com ou sem razões, mantemos nosso corpo em determinadas condições físicas. Esta circunstância produz condições que atrapalham o desempenho sexual. Quando percebemos uma ansiedade de modo claro associado a um momento sexual, podemos compreender mais facilmente que a ansiedade causa problemas sexuais. Quando a ansiedade é crônica, e ainda auxilia a produtividade de trabalho, não associamos tão facilmente este estado de ansiedade com os problemas sexuais. Mas as condições físicas que atrapalham o sexo estão presentes, quer queiramos ou não.
Outro complicador da ansiedade crônica, estresse, para a vida sexual são as maneiras de se administrar estas condições: álcool, ansiolíticos, antidepressivos, excesso de comida, falta de atividades físicas e situações de descanso e lazer.
Outro fator é o homem se focar tanto em dar prazer à parceira que se esquece da própria satisfação. É comum, mas não normal.
Esta é uma compreensão que muitos homens e várias mulheres tem e vivem, independendo dos produtos: aumento de ansiedade e desvio da atenção do próprio prazer sexual. Quem pensa desta maneira compreende que é a forma correta de pensar e este pensar passa a ser uma regra que escraviza a ambos.
Dedicar atenção ao bem estar próprio sempre deve vir antes de poder dar prazer ao outro. Se assim não for, o organismo desviará a atenção e se preparará para cuidar e permanecer atento, e isto fisicamente se correlaciona a ansiedade, portanto, prejudicando o desempenho sexual.
A valorização do próprio prazer permite a mudança de crenças que atrapalham a vida sexual, impedem o desempenho sexual e diminuem o prazer sexual.
Provavelmente os homens que conseguem ejacular na masturbação fazem bom uso das fantasias sexuais, do uso do espaço mental para elaborar ideias, imagens mentais e contextos que facilitam a ejaculação com o aumento da excitação.
Muitas vezes este homem pode estar valorizando demasiadamente as fantasias no espaço mental produzindo expectativas irreais que no contato a dois não ocorrerá da mesma forma que na masturbação.
Em outros homens, a compreensão de que fantasiar é inadequado e que não deveria fazê-lo conduz a evitar fantasiar quando a dois e isto produz diminuição de estímulos e por conseguinte de excitação sexual.
O que a terapia sexual pode fazer por estes homens?
A psicoterapia tem três aspectos a serem considerados no tratamento de inibição ejaculatória:
– Desenvolvimento e recuperação de comportamentos sexuais;
– Re-significar regras e cognições que impedem o desempenho sexual;
– Auxiliar o casal a desenvolver rotinas sexualmente saudáveis para prevenção de outros problemas sexuais futuros.
Então, não conseguir ejacular nas relações sexuais tem cura, tem tratamento. E o tratamento não será medicamentoso, nem médico. Será a psicoterapia focalizada na sexualidade. Será um momento pessoal para modificar-se e melhorar enquanto pessoa.