Como se explica a insatisfação sexual do brasileiro se ele aparece entre os povos mais ativos sexualmente?
Somos orgulhosos de ser uma nação sexualizada. Crescemos com esse discurso, ouvindo a professora dizer que este País nasceu sendo habitado por ingênuos indígenas que andavam sem roupa o dia todo. E lembre que ela dizia isso com muito orgulho! Na Europa a América foi muito associada à ideia de paraíso. Basta lembrar que, há pouco tempo, uma pesquisa mostrou que os estrangeiros viam o Brasil como um dos lugares onde era mais fácil conseguir uma relação sexual. Para a população, contudo, a vida sexual é quase um medidor de status, algo usado para contar vantagem. Sendo assim, a quantidade passa a valer mais do que a qualidade, o que ajuda a explicar essa insatisfação. No meu consultório, atendo gente que sente vergonha até em comprar livros sobre o sexo para melhorar o desempenho. Quando vai folhear a obra, fica olhando para os lados para ver se há alguém por perto.
O Brasil tem maioria católica e a Igreja, por sua vez, condena todo sexo que não se destine à procriação. Isso explica as dificuldades em abordar o assunto?
São duas questões. Uma delas se refere à falta de educação para os componentes emocionais do sexo. O diretor da escola não quer meninas grávidas, nem alunos doentes. Mas pouca gente se dedica à educação emocional dos adolescentes. A pesquisa em questão mostrou que a satisfação sexual não está atrelada, por exemplo, à estética do parceiro. Falta afetividade. No posto de saúde, encontra-se camisinha, mas ninguém diz o que fazer para melhorar a vida sexual. A segunda questão envolve a saúde física. Necessárias discussões em torno da aids e DSTs fizeram com que o prazer a satisfação ficassem em segundo plano.